quarta-feira, 19 de novembro de 2008


Essa história foi escrita por uma querida amiga a Maria Elisabete ou quem sabe Bete ou apenas Bebeth, uma figuraça cheia de proza pra contar e paisagens a descerver e a audio-descrever. Foi numa singular tarde de sexta-feira no acarajé da Keka,regado a ceveja trincada no gelo e à mais nobre iguária da nossa culinária, o acarajé, que trocamos conversa e histórias nossas. Daí, essa moça que escreve sem usar virgulas e é viciada em lápis preto faber castell nº 2, me presenteou com um mimo textual casando muita realidade e alguma ficção revivendo minha querida vó Gusta, uma velhinha que tudo germinou e depois de 100 anos se foi e nos deixou a saudade e seus causos lá da roça de Maragogipe e das vielinhas de Najé.

A vó Gusta de Conchita
Puuuutas das cavalariiiasssss. Por que vó Gusta falava isso de quando em vez? Eu não sei. Talvez a pessoa que me contou isso saiba. O nome dela é Conchita. Uma amiga minha muito gente boa. Fina bonita e agradabilíssima. (é isso mesmo...deixe minha hipérbole aí. É sincera!). Sim mas o post não é para Conchita é para vó Gusta de Conchita. Bem ... vó Gusta antes de morrer - aos 100 anos e 10 meses e meio - era muito pequeninha. Muito mesmo. Para você ter uma idéia um dia– disse Conchita - fomos comprar os óculos que o doutor havia prescrito e só conseguimos achá-los na seção de crianças. Verdade! Miudinha com um cabelão grandão finão brancão. Os passos eram lentos como se bem pensados antes de serem dados. Usava robe com bolsos. Ah esses bolsos! Tinha de tudo. Farelo de pão segurança dedal palito de dente colchetes fita métrica de costureira chaves palito de fósforo quebrado pra coçar o ouvido caroços de tangerina papeis de bombom bala. Bombom ... ela era louca por doces ... era um pouco pingunça das bebidas doces. Licor Martine Vinho e Coca-Cola. Muita Coca-Cola. Era doce ela traçava. Quando levávamos um doce pra ela ... ela partia no meio embrulhava novamente e dava para Tia. A vó Gusta era uma cabocla que gostava muito de rua. Mas não perdia um episódio do Sítio do Pica Pau Amarelo e sonhava com os quitutes de Tia Nastácia. Assistíamos TV juntas ... todas as sessões da tarde. A lembrança mais gostosa que tenho – disse Conchita – é a de ter sido acordada por ela todas as manhãs para tomar um copo de leite ninho desmanchado com água morna e amor na temperatura perfeita para os lábios da criança que eu era. Depois de beber ela dizia Dorme fia de vó. O contato com aquela velinha pequeninha e aquele leitinho delicioso amamentava meu sono e toda a minha infância. Voltava a dormir e acordava feliz. O dia começava bem e terminava bem. Tenho ainda fresco na memória a voz de vó Gusta dizendo láááá da cozinha: Socorro!!! Meu Santo Antônio!!! Se eu fosse vocês madurinhas assim eu queria lá saber de homem!! - Será que ela era bérbica, Conchita? (rsssss). Adorei conhecer a história da sua vó Gusta que enchia sua bolsa de tomate frutas cebolas etc todas as vezes que você voltava para a cidade grande e deixava ela com muitas saudades.

A vó Gusta de Conchita


Essa história foi escrita por uma querida amiga a Maria Elisabete ou quem sabe Bete ou apenas Bebeth, uma figuraça cheia de proza pra contar e paisagens a descerver e a audio-descrever. Foi numa singular tarde de sexta-feira no acarajé da Keka,regado a ceveja trincada no gelo e à mais nobre iguária da nossa culinária, o acarajé, que trocamos conversa e histórias nossas. Daí, essa moça que escreve sem usar virgulas e é viciada em lápis preto faber castell nº 2, me presenteou com um mimo textual casando muita realidade e alguma ficção revivendo minha querida vó Gusta, uma velhinha que tudo germinou e depois de 100 anos se foi e nos deixou a saudade e seus causos lá da roça de Maragogipe e das vielinhas de Najé.

A vó Gusta de Conchita

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Considerações sobre a Escola Inclusiva

*Por Mário Aleluia


Geralmente as críticas que ouço sobre a educação atual, falam da evasão como conseqüência da incompetência da escola em cativar o interesse do aluno. Essa incompetência estaria relacionada com o desalinhamento das práticas pedagógicas com as novas tecnologias, que são mais ágeis e sedutoras, e isso é verdade. Se a escola não se apropriar destas ferramentas ela não conseguirá preencher os interesses das crianças e jovens do terceiro milênio. Mas, não basta apenas encher a sala de aula com computadores e fazer o professor atuar com um mero técnico.

Acho que um dos maiores desafios da escola, além da atualização, é conseguir aliar tecnologia e subjetividade para tornar a busca do conhecimento uma aventura interessante e humanizada. Dentro dessa visão, uma coisa a ser considerada é a humanização das relações interpessoais na sala de aula, é o realinhamento do conhecimento com os valores humanos, e aí não há como não se considerar os afetos, componentes essenciais do processo relacional.

A ação do professor/a se constitui em estar em contato permanente com o outro, em lidar constantemente com as idiossincrasias dos vínculos. Ensino/aprendizagem implica numa relação onde entra medo, raiva, amor, alegria, tristeza, frustração, insegurança, desejo, tezão..., enfim, toda uma variada gama de emoções e sentimentos que normalmente não são considerados pedagogicamente. A transmissão/apreensão de conteúdos, o desenvolvimento de habilidades cognitivas, disciplina, controle do comportamento são o objetivo último da escola tradicional. O desenvolvimento intelectual ainda é mais valorizado que o emocional.

Agora surge a demanda pela escola inclusiva – muito justa por sinal – no entanto, muito complexa por que, além de todos os problemas conhecidos, o professor/a vai ter de lidar com outra variedade de necessidades decorrentes das deficiências específicas. A inclusão escolar precisa ser justa também para com o profissional. Ao imaginarmos que o educando/a não deficiente, projeta no professor/a muitas carências afetivas, fazendo dele/a depósito de suas frustrações muitas vezes até com agressividade, podemos ter a dimensão do que é uma classe inclusiva e o nível de exigência que recai sobre seu regente – competência técnica, intelectual e emocional.

Além de formação específica para lidar com as questões das deficiências, o professor/a tem de saber lidar com as demandas socio-afetivas dos educando/as e com as suas próprias, que nem sempre são lembradas. Às vezes nem os/as educadores/as têm consciência dos seus próprios sentimentos. Portanto, acho importante que na formação do educador/a seja incluído o autoconhecimento, como possibilidade de uma melhor capacitação emocional para lidar com as emergências afetivas naturais do processo ensino/aprendizagem.



*Educador Social, Arte-educador, Licenciado em Desenho e Plástica pela UFBA, especialista em Arteterapia pelo Instituto Junguiano da Bahia e Escola Baiana de Medicina.