terça-feira, 4 de novembro de 2008

Considerações sobre a Escola Inclusiva

*Por Mário Aleluia


Geralmente as críticas que ouço sobre a educação atual, falam da evasão como conseqüência da incompetência da escola em cativar o interesse do aluno. Essa incompetência estaria relacionada com o desalinhamento das práticas pedagógicas com as novas tecnologias, que são mais ágeis e sedutoras, e isso é verdade. Se a escola não se apropriar destas ferramentas ela não conseguirá preencher os interesses das crianças e jovens do terceiro milênio. Mas, não basta apenas encher a sala de aula com computadores e fazer o professor atuar com um mero técnico.

Acho que um dos maiores desafios da escola, além da atualização, é conseguir aliar tecnologia e subjetividade para tornar a busca do conhecimento uma aventura interessante e humanizada. Dentro dessa visão, uma coisa a ser considerada é a humanização das relações interpessoais na sala de aula, é o realinhamento do conhecimento com os valores humanos, e aí não há como não se considerar os afetos, componentes essenciais do processo relacional.

A ação do professor/a se constitui em estar em contato permanente com o outro, em lidar constantemente com as idiossincrasias dos vínculos. Ensino/aprendizagem implica numa relação onde entra medo, raiva, amor, alegria, tristeza, frustração, insegurança, desejo, tezão..., enfim, toda uma variada gama de emoções e sentimentos que normalmente não são considerados pedagogicamente. A transmissão/apreensão de conteúdos, o desenvolvimento de habilidades cognitivas, disciplina, controle do comportamento são o objetivo último da escola tradicional. O desenvolvimento intelectual ainda é mais valorizado que o emocional.

Agora surge a demanda pela escola inclusiva – muito justa por sinal – no entanto, muito complexa por que, além de todos os problemas conhecidos, o professor/a vai ter de lidar com outra variedade de necessidades decorrentes das deficiências específicas. A inclusão escolar precisa ser justa também para com o profissional. Ao imaginarmos que o educando/a não deficiente, projeta no professor/a muitas carências afetivas, fazendo dele/a depósito de suas frustrações muitas vezes até com agressividade, podemos ter a dimensão do que é uma classe inclusiva e o nível de exigência que recai sobre seu regente – competência técnica, intelectual e emocional.

Além de formação específica para lidar com as questões das deficiências, o professor/a tem de saber lidar com as demandas socio-afetivas dos educando/as e com as suas próprias, que nem sempre são lembradas. Às vezes nem os/as educadores/as têm consciência dos seus próprios sentimentos. Portanto, acho importante que na formação do educador/a seja incluído o autoconhecimento, como possibilidade de uma melhor capacitação emocional para lidar com as emergências afetivas naturais do processo ensino/aprendizagem.



*Educador Social, Arte-educador, Licenciado em Desenho e Plástica pela UFBA, especialista em Arteterapia pelo Instituto Junguiano da Bahia e Escola Baiana de Medicina.

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