quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A MULHER NEGRA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

Muita coisa aconteceu com o mundo até chegarmos aos dias atuais. Revoluções, guerras, avanços tecnológicos, mudanças políticas econômicas e socais. Mas, o que parece nunca mudar é a qualidade interior da humanidade como um todo, mudam-se apenas rótulos. Mudam-se ideologias, sistemas, mas o homem continua o mesmo, carregando a mesma mente, os mesmos medos e mesmos condicionamentos. De que adianta tanta tecnologia se não conseguimos viver em paz com nosso vizinho? Condicionamentos coloniais continuam rondando as casas dos homens modernos e eles nem mesmo se dão conta disso. Um destes condicionamentos revela-se na condição de desigualdade da mulher negra no Brasil dos dias atuais.Sabemos que a mulher teve um tratamento diferenciado no processo histórico. Seu papel, em diversas sociedades, era de submissão ao homem. Devia obedecer ao homem provedor da casa e, a mulher que não representasse seu papel para a sociedade era tida como escoria excluída, caçada. Às mulheres não era permitido o prazer sexual ou ter voz ativa na política e mais alguns outros luxos reservados ao mundo masculino. Mas a mulher negou o seu papel de fêmea submissa, lutou por direitos iguais e, com as mudanças promovidas pela contracultura, a negação aos valores ocidentais, ela consegue abrir uma brecha maior no mundo majoritariamente masculino. Desde então, luta por respeito e igualdade em uma sociedade notoriamente desigual. O feminismo pode ser caracterizado como [...] a ação política das mulheres. Engloba teoria, pratica e ética, transformando as mulheres em sujeitos históricos da transformação da sua própria condição social. [...] Este conceito propõe que as mulheres partam para mudar a si mesmas e ao mundo. O feminismo tem conseguido muitas conquistas em sua luta por direitos iguais, mas, no Brasil principalmente, existe um tipo de variável que precisa ser considerada, o caso das mulheres negras, que sofrem preconceito duplo, por serem mulheres e por serem negras (sexismo e racismo).É importante lembrar que as negras no Brasil tiveram um tratamento diferenciado das mulheres brancas. Se, às mulheres brancas foi negado o direito à voz ativa, às negras foi negado o direito a sexualidade, identidade, maternidade. Tirou-se muito da mulher africana que era trazida para ser escrava no Brasil.Tratadas como objeto, eram estupradas pelos senhores de engenho, serviam apenas para lhes dar prazer, enquanto que, a procriação era serviço da mulher branca. Eram obrigadas a amamentar os filhos dos seus senhores, cuidar deles e cuidar da casa grande. A mulher negra foi reservada lugar depreciativo do que a mulher branca e européia. Este é um dos condicionamentos que desde o Brasil colônia, ainda se arrasta na sociedade brasileira contemporânea.Enquanto vemos que as mulheres brancas conseguem maior inserção no mercado de trabalho, na política, tornam-se chefes de empresas, dominando lugares antes exclusivamente masculinos. A mulher negra continua ocupando os mesmos postos subalternos de outrora, sem necessariamente ter chance de melhorar sua condição social, como as brancas, em parte, por toda essa herança de desigualdade colonial. O movimento feminista foi racista no sentido de não atender as singularidades de outros tipos de mulheres, tornando sua luta generalizada. As mulheres negras por serem vistas de maneira diferente das brancas, mereciam também reinvidicações diferentes. É este tipo de racismo, entre as mulheres feministas que deve ser pensado. Olhar com atenção às singularidades de outros grupos de mulheres, lutando por direitos realmente justos para todas. A mulher negra tem um passado de exclusão na sociedade, já foi escrava, mucama, prostituta. Tais condicionamentos, arraigados pelos parâmetros eurocêntricos de civilização, inseridos em nosso subconsciente, há tanto tempo atrás, num passado que para nós parece remoto morto e enterrado, precisam ser trazidos à tona, levados à reflexão e finalmente enterrados.
Fonte: SOARES, Vera; O verso e o reverso da construção da cidadania feminina, branca e negra, no Brasil.

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